domingo, 21 de outubro de 2007

A floresta e o pasto


Em menos de vinte anos, os 100.000 quilômetros quadrados do Vale dos Carajás deixaram de ser mata para virar pasto de quase 1 milhão de bois. O avanço da pecuária extensiva, a corrida dos garimpeiros até Serra Pelada e os empregos indiretos gerados pela atividade da Companhia Vale do Rio Doce criaram municípios miseráveis como Parauapebas, Curionópolis e Eldorado dos Carajás, que virou notícia em 1996 devido ao massacre de dezenove sem-terra por policiais militares. Ainda nesse ano, as três cidades registraram quase 6.000 casos de malária, que atingiu assim, em um único ano, 5% da sua população. Houve ainda 1.000 ocorrências de tuberculose e centenas de pessoas contraíram lepra. A cada ano, o pasto avança sobre o que sobrou da mata. Em vez de gastar dinheiro em calcário e outros corretivos para o solo, pobre em nutrientes, os pecuaristas preferem queimá-lo. O fogo fertiliza a terra com a cinza, mas consome a sua já pouca riqueza natural. No Pará, pesquisas mostram que em doze anos o solo fica tão destruído que nem a grama nasce mais. É como um deserto.
Fonte: Veja/Especiais/Amazônia (Com adaptações)

A floresta sitiada


Há hoje uma visão catastrofista do futuro da Amazônia. Nela, pintam-se madeireiros e pecuaristas avançando sofregamente sobre um fiapo restante da selva. O fogo, utilizado para queimar a mata e dar lugar aos pastos, leva consigo árvores centenárias e destrói o habitat de centenas de espécies animais. No seu rastro, um cenário de terras devastadas e cidades miseráveis, herança da exploração desenfreada. Exagero? Sim e não. É improvável que a Amazônia, que é muito grande e só seria devastada por meio de um trabalho sistemático de desmatamento durante muitas gerações, chegue a correr o risco de destruição maciça, total, antes que a opinião pública se insurja e impeça a agressão. O apocalipse, no entanto, já desceu sobre pedaços consideráveis da região. Seria conveniente que eles funcionassem como alerta. Uma boa mostra fica na região do Vale dos Carajás, no Pará. Como em uma dúzia de outras áreas da Amazônia, ali hoje se reúnem dois tipos de degradação. Uma é a da terra, transformada num cemitério de tocos, onde havia antes uma floresta luxuriante.